quarta-feira, março 10, 2010

Ame e dê Vexame - Roberto Freire

Você ama aquela petulante!
Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu.
Você deu flores que ela deixou a seco.
Você levou para conhecer a sua mãe e ela foi de blusa transparente.
Você gosta de rock e ela de chorinho,
você gosta de praia e ela tem alergia a sol,
você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo,
nem no ódio vocês combinam. Então?
Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado,
o beijo dela é mais viciante do que LSD,
você adora brigar com ela e ela adora implicar com você.
Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste.
Ele diz que vai ligar e não liga,
ele veste o primeiro trapo que encontra no armário,
ele escuta Egberto Gismonti e Sivuca.
Ele não emplaca uma semana nos empregos,
esta sempre duro, e é meio galinha.
Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado,
e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga.
Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas.
Por que você ama este cara? Não pergunte pra mim.
Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais.
Gosta dos filmes de Woody Allen, dos irmãos Coen e do Robert Altman,
mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu
e seu corpo tem todas as curvas no lugar.
Independente, emprego fixo, bom saldo no banco.
Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador
e seu fettuccine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo.
Com um currículo desses, criatura, por que diabo está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa.
Quem dera o amor não fosse um sentimento,
mas uma equação de matemática:
eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem.
Caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes
teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão.
O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido que por uma ficha limpa.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano.
Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério,
pela paz que o outro lhe dá , ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam,
pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC.
Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos tem as pencas,
bons motoristas e bons pais de família,
mas mesmo assim, ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida.
Isto é o amor...

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