Reproduzo abaixo:
Real Dreams
Nada é o que eu, uma vez pensei que fosse. Você não é quem você pensa que é. Você não é nada que possa imaginar.
Eu sou um escritor de contos. A maioria dos fotógrafos são repórteres. Eu sou uma laranja, eles são maças.
Nós temos que tocar outras pessoas para permanecermos humanos. O toque é a única coisa que pode nos salvar. Eu uso a fotografia para me ajudar a explicar minha experiência para mim mesmo.
Alguns
fotógrafos disparam, literalmente, em tudo o que se move, desejando de
alguma maneira, em toda aquela confusão, descobrir "uma fotografia". A
diferença entre o artista e o amador é o senso de controle. Há um
grande poder em saber exatamente o que você está fazendo, mesmo quando
você não sabe...
Nós todos somos estrelas, apenas não sabemos isto. Eu pratico ser Duane Michals todos os dias e é tudo o que eu sei.
A maioria dos retratos são mentiras. As pessoas raramente são o que parecem ser, especialmente em frente a uma câmera.
Você pode me conhecer por toda sua vida e nunca se revelar, mostrar
seu interior para mim. Interpretar rugas como personalidade é insulto
não insight.
A
história da fotografia ainda não foi escrita. Você vai escrevê-la.
Ninguém fotografou um nu até você fotografar, ninguém fotografou uma
seqüência ou pimentões até você fotografá-loo. Nada foi feito até você
fazê-lo. Não existem mais respostas, tire Weston das suas costas,
esqueça Frank, Adams, White, não olhe para fotografias. Mate o Buda, eu
sou meu próprio herói.
Os
livros de fotografia normalmente tem títulos como: O olhar do
fotógrafo, ou a visão de..... e assim por diante, ou ainda, olhando
fotografias; é como se os fotógrafos não tivessem cérebro, apenas olhos.
Todas as coisas passam, assim até você passará. Precisamente agora seu tempo esta passando, precisamente agora.
Eu
me flagro falando com fotografias. Vejo uma fotografia de uma mulher e
pergunto, "isso é tudo que você tem para falar? Posso ver os longos
cabelos e o vestido. Será ela uma puta; uma mãe delicada, uma
consumidora. Será que ela acredita em alguma coisa? Eu quero saber mais.
Enquanto
escrevo isto, nesse exato momento, milhares de pessoas estão morrendo,
milhares estão nascendo. A terra está completamente viva com o brilho
da primavera, estrelas estão explodindo - meu Deus! Esse é o grande
mistério onde todos nós vivemos, é isso que chamamos vida, isso é o
encontro transbordando tudo e eu penso que nunca saberei, nunca.
Eu
sou o limite do meu trabalho. Você é o limite do seu. Isso é uma
viagem. Nós não vivemos aqui. Quando eu falo, eu quero dizer nós. Tão
rápido quanto eu digo a palavra agora ela já se torna passado.
É
muito fácil para o fotógrafo falsear, basta sair e fotografar vinte
pizzarias, vai estar tudo lá: nas diferenças, nas mudanças.
Algumas influências abrem portas e nos liberam, outras fecham e nos sufocam. A fotografia é particularmente sufocante.
Eu acredito na imaginação. O que não posso ver é infinatamente mais importante do que eu posso ver.
Os
fotógrafos me dizem aquilo que já sei como o reconhecimento da beleza,
coisas incômodas ou bizarras e isso não é a questão. Você teria que
ser uma geladeira para não ser tocado pela beleza de um parque como
Yosemite. A questão é lidar com a experiência total tanto emocionalmente
como visualmente. Os fotógrafos devem me dizer o que eu não sei.
Acho
as limitações da fotografia estática enormes. Alguém tem que redefinir
fotografia, tal qual é necessário redefinir a própria vida em termos
das nossas próprias necessidades. Cada geração deveria redefinir
linguagem e todas as suas experiências em termos pessoais.
A palavra chave é expressão - não fotografia, não pintura, não escrita. Você é o evento, não seus pais, amigos, gurus, somente você pode ensinar a si mesmo.
Tudo que experimentamos está na nossa mente, é tudo cabeça, o que você está lendo agora, ouvindo agora, sentindo agora...
Nós
todos temos medo da morte. Mas nós já morremos, basta olhar a
fotografia da formatura do ginásio, quem você vê ali esta morto, a foto do seu casamento, "ela" está morta. Precisamente agora você morreu.
Tentar comunicar os sentimentos verdadeiros de alguém em meus próprios termos é um constante problema.
Sou
compulsivo com minhas preocupações com a morte, em outras palavras
estou me preparando para a minha morte, mas se alguém num momento
pusesse uma arma em meu estômago eu me mijaria e todas as minhas
especulações metafísicas se molhariam.
Quando
você olha minhas fotografias, você está olhando meus pensamentos. Sou
muito atraído à pessoa de Stefan Mihal, ele é o homem que nunca me
tornei, somos completamente opostos, apesar de termos nascido no mesmo
momento e se por acaso nos encontrássemos, explodiríamos como matéria e
anti-matéria. Ele é a minha sombra e eu procuro me salvar dele.
Eu
apenas fotografo o que conheço, minha vida, não tenho a presunção de
saber como são os negros, as famílias suburbanas ou travestis e nunca
acredito em fotografias dessas pessoas posando para a câmera.
Eu
não sei de nada, e não posso contar com nada. Eu não estou certo de
alguma vez ter tido certeza. Não sei o que terei deixado para traz
quando chegar aos cinqüenta anos, e isto está bem.
A
visão das palavras nesta folha me agrada, é como uma forma de trilha
que eu tenha deixado para traz, pistas, marcas estranhas, a prova que eu
estiva aqui alguma vez.
Quando
eu tinha nove anos (no ano em que meu irmão Timothy nasceu) eu
costumava sentar-me na beira da cama e ficar imóvel muito tempo depois
que minha família já tinha ido
dormir. Tentava encontrar o "eu" de mim, e que nesse silêncio acharia em
algum lugar lá dentro do meu corpo o meu "eu". Continuo procurando!
Nós somos todos uma construção mental, mudem nossas químicas, nosso ponto de referência e a realidade mudará.
Sou um fotógrafo profissional e um místico diletante, mas preferiria ser um místico profissional e um fotógrafo diletante.
Lembro
da primeira vez que fiquei sozinho, tinha uns nove anos, vivia com
minha avó, e meu melhor amigo Art tinha saído com sua família. A tarde
pareceu longa e vazia. Sentia falta de alguém, estava vazio e uma enorme
sensação de falta.
Nenhuma
das minhas fotografias existiriam, no chamado mundo real, se eu não as
tivesse inventado. Elas não são encontros acidentais, testemunhos nas
ruas. Eu sou o irresponsável. Estando Bresson lá ou não, aquelas pessoas teriam feito seu pic-nic à margem do Sena.
Eles foram eventos históricos. Não existe uma fotografia. Não há um
tipo de fotografia. O único valor de julgamento é o trabalho
intrinsecamente. Será que ele me toca, mexe, me preenche?
Qualquer
um que define fotografia me apavora. Essas pessoas são foto-fascistas.
Os limitadores. Eles sabem! Temos de lutar para nos libertar
constantemente, não somente de nós mesmos mas sobre tudo daqueles que
sabem.
As
vezes parece que estou a espera de que alguma coisa aconteça. É tão
difícil imaginar que seja eu a pessoa que está escrevendo isto. Sinto-me
uma outra pessoa, não interessada em uma ampliação perfeita e sim em
uma idéia perfeita, pois idéias perfeitas sobrevivem à ampliações ruins,
reveladores ruins e baratos, essas tais idéias podem mudar nossas
vidas.
"Se
Duane deseja fazer fotografia, ele deveria fazer um estudo sobre os
trabalhadores rurais ou operários, que são assuntos que podem provocar
algumas mudanças sociais, fazer algo por mais alguém, alguma coisa
nobre. Isto é o que eu faria."- Stefan Mihal
Nós temos maneiras de fazer as mais extraordinárias experiências parecerem ordinárias, Nós verdadeiramente trabalhamos para destruir nossos milagres.
Os melhores artistas deram de si próprios em seus trabalhos. Magrite
foi um prêmio, Atget, Eakins, Redon, Brandt, Sanders, Balthus, De
Chirico, Whitman, Cavafy. Aí está tudo o que se tem pra dar, eu sou meu
presente a vocês e vocês são sues presentes pra mim.
Muitos
fotógrafos fotografam as vidas das outras pessoas, raramente a sua
própria. Nós temos que nos libertar para nos transformar em aquilo que
somos. A fotografia descreve muito bem.
Nossos pais e avós nos protegem da morte, mas quando eles morrem ninguém mais se coloca entre nós e a morte.
Uma
vez pensei que o tempo fosse horizontal, e que se olhasse à minha
frente eu poderia ver a próxima quarta-feira, agora vejo que ele é
vertical, diagonal e perpendicular. É tudo muito confuso.
As
pessoas acreditam na realidade das fotografias, mas não na realidade
das pinturas, isso dá uma vantagem enorme para o fotógrafo, mas desafortunadamente os fotógrafos também acreditam na realidade das fotografias.
As sentenças mais importantes normalmente são formadas de duas palavras: eu
amo, me desculpe, por favor, me perdoe, me toque, eu preciso, eu
gosto, muito obrigado. Tudo é assunto para a fotografia, especialmente
as coisas difíceis da vida: ansiedades, traumas de infância, mágoas,
pesadelos, desejos sexuais, todas essas coisas que não podem ser vistas são as mais significativas e não podem ser fotografadas apenas sugeridas.
Eu gostaria de conversar com William Blake e Thomas Eakins.
(Introdução do livro "Real Dreams" de 20 de junho de 1976)
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