Uma revolução ao melhor estilo dos ricos: regada a champanhe em uma casa noturna com o sugestivo nome Billionaire. Na semana passada, Flavio Briatore, o milionário chefe da equipe de Fórmula 1 Renault, insurgiu-se contra novos impostos cobrados pelo governo da Sardenha, na Itália, sobre os endinheirados. Chamada de taxa do luxo, ela incide sobre iates, aviões particulares e casas de verão que estejam na paradisíaca cidade localizada na Costa Esmeralda. É uma medida que, de acordo com as autoridades da Sardenha, trará entre 300 milhões e 700 milhões de euros aos cofres públicos da região. Mas, além de dinheiro, já trouxe uma minúscula revolta liderada pelo milionário italiano. Briatore, indignado com as novas cobranças (15 mil euros anuais para iates com mais de 60 metros, 1 mil euros para cada pouso de aviões particulares com espaço para mais de 12 pessoas e 15 mil euros para quem tem casa de verão com área construída superior a 1 mil metros quadrados), comprou uma página de jornal para dizer o que pensava sobre a taxa e anunciou uma festa na sua casa noturna Billionaire para arrecadar fundos dirigidos às crianças carentes – um modo sutil para mostrar que ajuda a comunidade.
Nos jornais, Briatore bradou. “Eles (os governantes) não entendem que o luxo não é crime, mas um investimento em termos de imagem e prestígio, e qualquer taxa não ajudará, mas impedirá o turismo.” A mensagem levava também as assinaturas de todas as pessoas que trabalham para Briatore. No fim do texto ainda havia a explicação de que o anúncio era dedicado “àqueles que pensam que nós apenas vivemos esvaziando garrafas de champanhe”. Outros magnatas que possuem casas na região, como o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi e alguns milionários americanos, não deram opinião sobre o assunto. Briatore tem todo o direito de dizer o que pensa. O difícil é imaginar, apesar de ele trabalhar muito, que sua vida é dura. Sempre acompanhado de belas mulheres, como as modelos Heidi Klum e Naomi Campbel, o italiano tem uma vida de playboy e circula com desenvoltura no jet-set internacional. Briatore, definitivamente, não é um coitado.
A atitude do homem que comanda uma das maiores equipes de Fórmula 1 da atualidade parece soar isolada diante do que tem acontecido ao redor do mundo. Estudiosos sobre o assunto advertem que essa divisão de ganhos é um movimento inexorável que começa a ganhar destaque, principalmente, nos países europeus. Na Alemanha, por exemplo, a primeira-ministra Angela Merkel aprovou o aumento de imposto sobre os ricos para controlar o déficit no orçamento do país. A partir de janeiro de 2007, 45% dos rendimentos das pessoas que ganham mais de 250 mil euros anuais irão para o governo. Com isso, espera-se arrecadar 19 bilhões de euros em três anos. No Brasil, país com uma das maiores desigualdades sociais do planeta, onde 1% da população mais rica detém uma renda equivalente aos ganhos dos 50% mais pobres, a chegada de um imposto como esse também é pregada por alguns especialistas. “Se a democracia perdurar e houver pressão da sociedade, é um caminho natural”, diz o economista Márcio Pochmann, especializado em políticas sociais.
Já existe uma idéia que prevê uma colaboração dos mais ricos. A Central Única dos Trabalhadores, a CUT, enviou ao presidente Lula uma proposta que prevê a cobrança de 1,5% sobre o patrimônio líquido de 300 mil famílias com mais de R$ 2,4 milhões. “Esse imposto seria cobrado uma só vez e o dinheiro usado para um fundo de valorização do salário mínimo”, diz Arthur Henrique da Silva Santos, presidente da CUT. O dinheiro arrecadado, algo em torno de R$ 23,8 bilhões, seria usado para suprir o déficit causado pelo aumento do salário mínimo até 2012, que chegaria a R$ 741,53 mensais. “A desigualdade social está gritante”, diz Santos. “Já está na hora de abrirmos um debate”.
€ 15mil É o imposto cobrado na Sardenha sobre iates com mais de 60 metros |
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